Acabar desse jeito, sem palavras ou gestos, sem troca de olhares ou ofensas.
Com esse silencio indiscreto, idiota e cretino; com essa falta de letras e sons entre você e eu.
Não era bem assim que eu imaginava nossas vidas, nossos planos e anseios, imaginei errado, sonhei demais.
Não esperava isso, e esperei demais uma coisa e desperdicei minhas palavras na tentativa van de consertar tudo, mas concertar como?
Como concertar algo meio bambo, meio quebrado; fatigado.
Embora por mais inconcebível que possa ser, não só sofre você ou eu, não há vitimas, só pessoas feridas pelos os estilhaços de escolhas mal feitas; de coisas ditas em horas um pouco tarde.
Talvez não seja tarde a palavra correta, mas sim, inoportunas, em que outras coisas já foram entranhadas e entravadas, como uma tatuagem; num momento em que não se podia mais escolher entre um ou outro pois o outro havia criado seu próprio caminho.
O outro havia encontrado a si mesmo, olhando-se nos espelhos fugazes das janelas da alma, numa hora em que outro deixou de ser só ele e se tornou livre pra sair de si.
O outro já não estava mais sozinho, e com sua nova pessoa, o outro, liberto de sua confusão, havia encontrado em alguém o que procurava nos outros.
O outro num momento de êxtase divino, quase sobre humano, rendeu-se aos encantos de algo mais forte.
Mas por ironia do destino o outro havia sido escolhido, numa hora em que ele não queria mais tal condição, tal escolha. Pois outro já escolhera.
Escolhera amar outro, escolhera ter outro, escolhera ter alguém realmente seu, que o completasse de tal forma que não seria apenas o outro, ambos seriam um só.
Num sincronismo de ginastas, num sincronismo quase que perfeito e irrevogável.
O outro se sente bem, confortável e feliz as vezes.
Mas ele sabe que antes ele era bem mais feliz e pleno, ele sente falta das palavras ditas, das risadas e da cumplicidade, pois o outro jamais vai esquecer de um.