Sexo tântrico, um jeito mais zen de amar
Longos beijos molhados. Carícias. Uma eternidade em êxtase até o prazer cósmico. Todas já ouvimos falar na arte sexual que promete o paraíso, mas o que ela é exatamente?O cantor inglês Sting recomenda, a apresentadora do Casseta & Planeta, Maria Paula, se diz adepta e a atriz Leila Lopes afirma que encontrou o nirvana. Apesar de o sexo não ser precisamente uma novidade em nossa vida, quem não sonha com uma noite sensualíssima, cheia de carícias e prazeres que podem durar horas e horas? Mas como é que se consegue isso? Há cursos especializados?
O começo de tudo está no tantra, filosofia que nasceu na Índia há milênios como uma oposição à rigidez do hinduísmo. Quebrou tabus, derrubou regras severas e instituiu o culto ao feminino, à felicidade e à arte de amar. E o sexo tântrico faz parte dessa arte. A mulher é o coração do tantra, é uma deusa, Shakti, a energia feminina, de onde emerge o universo. Shiva, seu consorte, é a polaridade masculina, a consciência, que a respeita e a reverencia. O encontro desses dois princípios opostos e complementares é o êxtase. Durante o sexo tântrico, o casal deve evocar esse par primordial de deuses e perceber um ao outro como divindades.
"É impossível importar essa tradição para o Ocidente como um manual de exercícios", diz Márua Roseni Pacce, terapeuta corporal, professora de ioga e fundadora do Núcleo de Yoga Ganesha, em São Paulo. Mas ela acredita que podemos aprender muito com seus ensinamentos, trocando a relação sexual sem intimidade e sem compromisso que anda por aí por um verdadeiro encontro de amor.
A ênfase da prática não está em chegar ao orgasmo, mas em alcançar um estado de consciência maior. Não há separação entre corpo e espírito. A energia sexual nos conecta com o divino. Para o homem, o caminho do paraíso é não ejacular. Chegar quase lá e se segurar. A ereção permanece e ele consegue atingir um tipo de prazer chamado "orgasmo cósmico". A mulher, tratada como uma deusa, se abre para o prazer e é capaz de ter orgasmos múltiplos ao mesmo tempo que acompanha seu parceiro nessa lenta dança de autocontrole e concentração, que, segundo os praticantes, é extremamente gostosa. Orgasmo sem ejaculação? "Uma coisa não depende mesmo da outra, explica Margareth Reis, psicóloga e terapeuta sexual do Instituto H. Ellis, em São Paulo.
"Orgasmo é uma sensação que vem do cérebro, ejacular é o processo de expulsão do sêmen." Como no sexo tântrico a sensação resulta de fusão com o divino, para obtê-la é preciso dedicação, devoção, fé - o que significa outra postura diante do relacionamento. Nenhum livro substitui um mestre para guiá-la nesse caminho. Mas há workshops e cursos (veja mais em "Workshop para recriar o paraíso"). Se você ainda não tem intimidade com o poder da deusa Shakti, imagine essa energia feminina como uma cobra adormecida na base da coluna vertebral. Quando acordada, ela sobe até o alto da cabeça, nutrindo os chacras, os sete pontos energéticos ao longo da coluna. Assim, une consciência e prazer. "Para aprender a direcionar essa energia para o alto, para a consciência suprema, deve-se praticar uma espécie de meditação a dois, um treinamento tanto físico como espiritual", explica Márua. "Preparar o sistema nervoso, praticar posturas, respirações, mantras, visualizações... revigorar o corpo para que seja capaz de sentir, de se emocionar e de pulsar por inteiro." E, sem pressa, começar a transformar a relação. Só ter olhos para o seu par. Caminhar de mãos dadas, olhar nos olhos longamente, beijá-lo com ternura, trocar carícias... Lembrese, vocês são criaturas sagradas, e o corpo é um templo!
O sexo tântrico começa muito antes da cama. Inclui a preparação do ambiente: os incensos, as flores, a música. A iluminação é um ponto importante. O ritual nunca é praticado no escuro para que o casal não perca o contato. Espalhe velas pelo ambiente. Cuide do corpo. Leve horas no banho. Escolha a roupa pela textura. Lembre da maneira como se falaram ao telefone durante o dia, os sorrisos, os abraços. Não há performance de ego, não há proibições, ninguém se preocupa com o desempenho, não existe ansiedade. Apenas sensações, impulsos, instintos, sentimentos levando você na direção da realização, da transformação, da união com o todo. O tantra é um caminho sagrado, saudável e transformador. Não um obaoba. Ou uma simples prática sexual. É dedicação, é cuidado.
É amar devagarinho, de corpo e alma. Por inteiro. Sempre.
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